
Amanheceu bem frio e agora, já entrando no trem que me levará de Munich para Meitingen, começou a nevar. Hoje é dia do primeiro concerto da temporada internacional que já acontece há 10 anos.
Tudo começou com um contato por email de um alemão apaixonado pelo violão brasileiro, o Frank Burkhard que por aqui na Alemanha é mais conhecido como ”Frank do violão”. Na mensagem, ele me pedia partituras de algumas músicas e me perguntava quando eu tocaria na Alemanha. Eu respondi que adoraria mas que não tinha nenhum contato nesse país que pudesse organizar meus concertos. Ele imediatamente passou essa informação para um amigo que se propôs a
organizar uma pequena turnê, que veio a acontecer dois anos mais tarde.
Daí pra frente, tenho vindo quase todos os anos para a Alemanha, e quando não venho para cá, vou para a Bélgica, outro país que recebeu meu trabalho de braços abertos. Este ano, como na maioria das vezes, tocarei nesses dois países e depois da fase Belga, farei meu primeiro concerto em Portugal, que se tudo der certo passará a fazer parte do circuito anual.
Uma turnê européia é realmente um charme. Você conhece lugares maravilhosos, come e bebe verdadeiras maravilhas e toca para um público extremamente refinado em termos culturais. Mas não se engane. Uma viagem dessas é muito cansativa.

Se você não é um artista pop, viajar para tocar tende a ser uma produção mais enxuta e não dá para contar com assistentes para te ajudar nos traslados, feitos basicamente de trem ou e de avião.
As viagens são quase diárias, ou seja, não sobra muito tempo para passear e às vezes, nem para estudar o repertório. Viajo com uma mala de roupas, meu violão uma mochila com o equipamento básico, que inclui um laptop, uma placa de audio, um microfone e cabos. Enfim o mínimo necessário.
Muitas vezes é no trem que resolvemos coisas do cotidiano como responder emails pagar contas e até dar entrevistas. Agora mesmo caiu um email na minha caixa postal cheio de perguntas para eu responder à respeito do concerto de Rottemburg.
Como se pode ver uma turnê exige preparo.
Eu normalmente começo a tomar umas vitaminas algumas semanas antes. O stress e o cansaço das viagens costumam debilitar as resistências e uma gripe no meio do processo atrapalha bastante.
O repertório deve estar muito bem estudado, pois temos de deixar a melhor impressão possível. Não sabemos quando ou se iremos voltar, aliás voltar a se apresentar em um local, depende da boa impressão que a gente causa. Ou seja, há de se dar o melhor em cada evento, mesmo que seja um pequeno clube de jazz ou até em eventos privados, tipo “saraus” cada vez mais comuns inclusive no Brasil.
A música não cantada tem um público muito menor do que o da música de massa, mas ao mesmo tempo muito mais culto e fiel. Essas pessoas frequentam eventos diferenciados e mais intimistas. Se uma dupla sertaneja tem um público de milhões de pessoas no Brasil, um instrumentista realmente bom, pode ter milhões de fãs pulverizados pelo mundo todo. Um concertista pode passar a vida inteira tocando para públicos menores em pequenos espaços, em todas as cidades do mundo, o que não é nada mal. Não importa o tamanho de palco onde você toca, você tem que dar sempre o melhor.
Hoje tocarei em uma igreja. É muito comum por aqui, concertos acontecerem em igrejas. Além da acústica favorável para instrumentos acústicos, casa cheia é praticamente garantido.
Fiquei aqui escrevendo e não me dei conta que estou chegando. E eu tenho que pegar as coisas e sair rápido pois o trem pára por apenas um ou dois minutos.
Daqui a pouco tenho a passagem de som e logo após, o concerto. Apenas o primeiro dos 16 antes de voltar para o Brasil.
Ao trabalho.
Wunderbar!
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