Jimi Hendrix não sabia teoria musical e nem lia partitura
Revisão: Mario Mele

Não sou capaz de afirmar com precisão quantas vezes eu já escutei meus alunos dizendo a frase que dá título a este artigo, como uma espécie de justificativa para tentar escapar dos estudos de teoria e leitura musicais. Na verdade, acredito que todo professor – de violão ou de guitarra – já ouviu esse “lick” inúmeras vezes. Em contrapartida, a resposta dos professores também virou um “riff” conhecido: “Se você fosse o Jimi Hendrix, não estaria aqui tendo aulas comigo”.
Durante a minha participação no “Marcos Kaiser Cast”, em um episódio com o André Fagundes, lembro que ouvi uma frase um pouco apimentada, mas muito completa, apesar de concisa: “A exceção é o exemplo do burro”.
Mas por que eu estou abordando esta questão?
Acontece que as maiores lendas de seus instrumentos contribuíram – e ainda contribuem – imensamente para perpetuar a ignorância do jovem estudante de música. E mais: ao serem promovidos ao posto de “imortais”, esses músicos encantam o imaginário daqueles que sonham com a fama e os palcos, como se este fosse um caminho muito simples. Só que o efeito colateral é a inevitável frustração.
Obviamente não desmerecendo Hendrix, Jimmy Page, Eric Clapton e Ritchie Blackmore, entre outros tantos outros, mas a verdade é que os recursos musicais dos “guitar heroes” dessa geração dos anos 1960/70 não eram nada extensos. Eles se transformaram em lendas por razões que se somaram ao indubitável talento que tinham. Aquela era uma época propícia ao consumo de rock e de blues por pessoas absolutamente afinadas com as características estéticas do momento. E o mercado logo entendeu o potencial comercial, se encarregando de explorar economicamente esse fenômeno cultural.
Mas afinal, eles eram realmente bons?
Sim, sem dúvida. Jimi Hendrix, por exemplo, apesar dos limites de seu conhecimento teórico, carregava uma bagagem artística volumosa. A música era o veículo, mas o que realmente chamava a atenção era sua criatividade, seu desprendimento, seu carisma, suas roupas, sua expressão corporal, seu gestual, sua rebeldia e, acima de tudo, seu talento musical.
E se você pretende ser como ele ou Jimmy Page, não basta somente copiar suas frases e linhas estéticas de composições e arranjos, mas sim enxergar a música, a vida e o mundo pela óptica inteligente do verdadeiro criador. Fazer a diferença exige muito mais do que apenas aprender a copiar.
Não me parece que o Tom Jobim quis cortar caminho nos estudos. Muito pelo contrário, ele dominava a harmonia e a melodia a ponto de ter sido reconhecido e imortalizado internacionalmente.
Lembre-se que Bach, Beethoven, Chopin, Liszt e todos os grandes compositores eruditos da história não se tornaram apenas famosos, mas viraram eternas referências para tudo o que se faz em matéria de música.
Na dúvida, portanto, estude bastante – eu faria isso. Ser competente é uma qualidade que vai garantir a sua independência. E, se você for realmente criativo, vai deixar a sua contribuição e será reconhecido.
Agora, se você se acha genial e acredita que será famoso e bem-sucedido sem precisar estudar, eu só posso te desejar boa sorte.