Escolhi para este texto um tópico delicado e aparentemente sem maior importância, mas que tem o potencial de mudar nossa trajetória de forma significativa.
Uma das coisas mais difíceis para um músico é lidar com a crítica. Dependendo de como ela chega até nós, ela pode ser um grande impulso ou determinar um impacto de alto poder destrutivo.
A auto-crítica funciona da mesma forma. Dependendo de como direcionamos o olhar analítico para o nosso próprio trabalho, podemos crescer ou tropeçar. Isso porque muitas vezes usamos para a nossa auto-crítica recursos “doados” por “terceiros influentes”, o que pode nos distanciar de nós mesmos, às vezes de forma perene.
Quando alguém se aproxima querendo dar uma sugestão, já está subentendido e claro que essa pessoa no mínimo tem ressalvas em relação ao nosso trabalho. Sentir que não convencemos nossos ouvintes plenamente, pode gerar um certo desconforto ou mesmo abalar a nossa autoconfiança. Para evitar o impacto negativo de uma crítica é importante fazermos a nós mesmos algumas perguntas:
- Quem está nos criticando?
É um músico ?
Que tipo de músico?
É um ouvinte maduro?
É um ouvinte despreparado?
É um colega?
É um companheiro de república?
- Que motivo levou esse alguém a emitir uma crítica?
A boa vontade em ajudar?
A tentativa de nos desestabilizar
A não compreensão do nosso discurso musical?
Querer se auto-afirmar?
A inveja?
- Porque algumas críticas nos afetam?
Não estamos seguros o suficiente?
Queremos agradar a todos?
Não sabemos lidar com a contrariedade?
A maturidade me ensinou a não levar essas coisas muito a sério porque na grande maioria das vezes, esse alguém que veio “nos ajudar”, não reune predicados suficientes para compreender ou consequentemente sugerir alguma coisa. É como vermos um jogo da seleção brasileira e criticarmos as escolhas do técnico. Vamos e venhamos, muito pouca gente compreende realmente o que acontece em campo, nos vestiários, nas diretorias dos times, nos contratos de patrocínio, etc.
A pessoa que nos critica pode ser apenas um ignorante carismático. Cabe a nós avaliarmos quem nos critica e dar ou não ouvidos às suas palavras.
É sempre bom lembrar que até mesmo críticos ou comentaristas profissionais, podem estar comprometidos com seus próprios interesses, que podem ir bem além do que gostaríamos de acreditar. Críticos precisam ser notados e por conta disso, muitos optam por criar polêmicas, estratégia aliás, muito eficaz.
A auto-crítica é um fator um pouco mais complexo.
Ela parte de nós para nós mesmos, e vem carregada de princípios que em alguns casos nos foram incutidos por terceiros (amigos, professores, família, etc).
Esse tipo de influência não é um fator muito aparente e muitas vezes ficam guardados lá nos porões de nosso subconsciente. É aí que mora o perigo.
Conheço músicos que por conta de uma exigência muito acentuada, acabam travando seu próprio talento. Conheço outros no entanto, que por falta de senso crítico mínimo, expõe-se ao ridículo. Acreditem, esses dois personagem existem e são mais comuns do que imaginamos.
E como escapamos dessa armadilha?
Em primeiro lugar, entenda quem você é e aonde quer chegar. Prepare-se para essa jornada de forma consistente. Inspire-se em seus ídolos e aprenda com eles.
Num momento posterior, quando você tiver o domínio do vocabulário musical que pretende usar, aventure-se pelos caminhos que fazem sentido para você, experimente alternativas diferentes, olhe para o mundo como um universo a ser explorado e acima de tudo, utilize-se sempre do bom senso.
Lembre-se que nós e nossos ídolos, somos seres humanos e portanto, temos as mesmas ferramentas para construir estradas. Quem vai mais longe é quem trabalha mais.
Como podemos observar, este é um tópico importante, cheio de vielas escuras e túneis secretos. Nós precisamos desenvolver a habilidade de lidar com a questão de uma forma direta e prática. Eu uso uma regra muito eficaz que consiste em "jamais" dar ouvidos a quem é pior do que eu.
Não permita que sua insegurança liberte os portais dos seus ouvidos para “Cavalos de Tróia”.
Falar, até papagaio fala.
Fazer é outro departamento.
Exatamente isso Ulisses. Ótimo texto! Eu por exemplo tenho reações raivosas com críticas no sentido do volume do som do meu violão, no caso, tocando de forma voluntária na igreja: um tal de gente que se acha no direito de vir interpelar o músico de forma desrespeitosa e impositiva pra dizer que "tá alto o som do violão, abaixa", como se tivesse o direito ou a cátedra para tanto. A última vez que aconteceu isso tive que me "autossabotar", e em forma de protesto, desligar o violão, o que levou ao "critico" após a missa dizer "agora ficou bom!". A minha "autocrítica pessoal" diria para "se submeta a essas pessoas, evite confusão", abaixando o som do violão, indo contra o…