A composição e a mágica
- Ulisses Rocha
- 22 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de fev. de 2024

É muito comum alguém sugerir ou mesmo cobrar, que eu explique de uma maneira mais objetiva, como funciona o meu processo de composição. Na verdade eu não paro para pensar nisso e por consequência não conseguia definir exatamente a abordagem a ser usada ou mesmo o roteiro a ser seguido dentro de um possível curso sobre a questão. Para minha própria surpresa, tive recentemente, alguns “insights” e acho que chegou a hora de encarar o desafio de falar sobre o assunto de forma organizada e clara.
O primeiro passo do processo começa exatamente agora, momento em que eu tentarei falar sobre que tipo de relação tenho com esse assunto tão rico e subjetivo. Considere este texto como a introdução de um livro.
A criação musical pode se manifestar de diversas formas e níveis de complexidade. O compositor pode utilizar tanto o conhecimento teórico adquirido nas escolas, livros, faculdades, cursos livres e internet ou apenas deixar fluir ideias pre adquiridas na prática musical informal.
Eu acredito, e é só uma crença mesmo, que conhecimento e a técnica não oferecem o passaporte para essa viagem. No entanto quando o criador consegue se emocionar com o a própria criação é o momento em que ele torna possível para o outro, a interpretação subjetiva da mensagem contida em sua peça musical.
Eu estudei muito, mas confesso que nunca fiz um curso de composição. Na verdade, me considero um músico razoavelmente bem formado em termos teóricos, que dá vazão às suas ideias criativas de forma instintiva. Acho que estou sempre em algum ponto entre a teoria e a informalidade.
Muitos colegas tentaram me convencer a fazer cursos de composição, sugestão que nunca acatei, o que os deixava bem irritados. Interpretavam-me quase sempre de forma negativa, me taxando de arrogante e prepotente por desprezar a ajuda de compositores mais experientes.
Na verdade eu não ligava a mínima para esse tipo de cobrança nem sequer me sentia ofendido ou inseguro. Sempre esteve claro para mim que o resultado que eu perseguia não estava nas aulas e nem em métodos pre concebidos. Sou um músico de tradição popular, me emociono com coisas simples, não preciso ser respeitado por intelectuais que acreditam ter uma compreensão superior da arte, e tentam nos enquadrar em algum nicho acadêmico ou elitista.
Música é um tipo de mágica. Ao contrário do que parece, o elemento que transforma notas em magia, não é óbvio e nem palpável mas é absolutamente real. A música acontece quando interfere em nossa percepção do espaço e do tempo, momento em que somos transportados para um cenário mais poético, onde os sentimentos passam a ser o idioma dominante.
Outro dia me perguntaram durante uma live, qual imagem de meu trabalho que eu gostaria deixar para a posteridade. Apesar de eu ter sentido um tom um tanto quanto provocativo na forma com que a pergunta foi elaborada, respondi simplesmente que esse tipo de preocupação não ocupava nenhum espaço em meus projetos de vida.
Não estarei aqui para ver a perpetuação ou esquecimento do meu trabalho. Quero apenas compartilhar meus sentimentos e produzir minha contribuição hoje. Não vou seguir caminhos que não são meus.
Não critico ou desprezo outros caminhos, apenas acho que eu tenho o direito de ser apenas eu mesmo. Quero entrar em ressonância com a música que eu mesmo faço. Quero que a cognição seja natural que se estabeleça através de um vocabulário comum e inteligível. Quero que minha música seja apreciada como uma criança aprecia uma historinha contada pela mãe na hora de dormir.
Ulisses bom texto. Viu tem que melhorar a interface pros comentários porque já perdi duas vezes textões que se perderam porque "não foi". Abs