A resposta é - sim.
É claro que a música de massa é reconhecidamente muito rentável especialmente para artistas que contam com grande visibilidade.
Acredito no entanto, que a resposta para essa pergunta, quando consideramos outros nichos musicais não tão populares, pode ser bem menos óbvia, o que eleva este tema ao topo da lista de preocupações daqueles que querem fazer da música seu meio de vida.
Uma breve observação do mercado pode ser bem interessante e um excelente ponto de partida para a compreensão dessa questão.
O mercado musical é bem maior do que imaginamos.
A indústria ligada à música, por exemplo, é muito grande, diversificada e gera uma enormidade lucro no mundo todo.
Instrumentos musicais, acessórios, equipamentos de audio, cabos, amplificadores, de todos os tamanhos, qualidades, preços, etc, multiplicam-se em especificações, aplicações, para todos os públicos. Não é a toa que gigantes do setor como Roland, Yamaha, Fender, Gibson, só para ilustrar, espalharam-se pelo mundo todo e com certeza obtêm lucros bilionários. Todo esse produto é escoado através das lojas, tanto as físicas quanto as virtuais. Estas são também gigantes que movimentam bilhões.
A área do entretenimento, cujo relacionamento com o mundo da música é bem estreito, não é tão menor. O cinema, o teatro, os shows em todos os tipos de espaços, estão também espalhados pelo mundo todo, geram um enorme volume de recursos para artistas, produtores e profissionais de apoio.
Os veículos de comunicação como TV, rádio e plataformas digitais, todos usam a música.
Há ainda a área de eventos, comerciais e privados.
Parece que a participação da música no mundo beira o infinito.
É impossível imaginar que um mercado tão produtivo e diversificado não ofereça opções consistentes de participação dos músicos em seus lucros.
Porque então a vida do músico acaba sendo tão complicada financeiramente para uma grande parcela, senão para a maioria dos profissionais?
Talvez a resposta esteja na forma com que o músico entende a realidade.
Como artista, músico profissional e professor sempre tentei entender esse fenômeno e infelizmente cheguei à conclusão que a responsabilidade principal pelas dificuldades encontradas é do próprio músico.
Para muitos de nós, a música é sagrada ou divina. Parece ser uma espécie de religião e por isso não gostamos de relaciona-la ao dinheiro.
É aí que mora o problema.
Para nós, o reconhecimento é o mais importante, principalmente quando vem dos nossos colegas e professores.
Nosso foco está todo voltado para a excelência e quando a atingimos, achamos que a missão está cumprida. Se os convites para concertos e gravações não aparecem buscamos consolo na ideia de que não somos compreendidos pelos “humanos normais”. Quando isso acontece, ou seja quase sempre, partimos para a solução de emergência, ou seja, dar aulas. A didática é sim uma boa opção profissional, principalmente nos tempos de Internet. Suspeito no entanto que esse não seja o objetivo de uma boa parte daqueles que entram para o mundo da música profissional o que pode trazer bastante frustração para alguns.
A verdade difícil de aceitar, é que assim como os outros “seres humanos normais”, temos que nos posicionar competentemente no sistema comercial da música. É preciso encarar naturalmente o fato de que nossa arte é um produto/serviço a ser comercializado. Apenas assim teremos alguma chance de sobreviver decentemente.
Já passou do tempo de os músicos entenderem que a música tem importância vital para a sociedade. Muitos setores utilizam-se música e nós temos que pegar nossa parcela desses lucros.
Você agora me pergunta:
-E como fazemos isso?
A resposta vem no outro texto onde vou dar algumas sugestões baseadas na experiência pessoal e nos casos que pude observar nessa longa trajetória de mais de 40 anos.
Até já.
Fala Ulisses muito bom o post.
Creio que é muito importante pro músico garantir além do pão de cada dia, uma certa estabilidade que o país infelizmente não oferece, sobretudo pra quem sai da música dita comercial.
Uma das saídas que encontrei, ainda que tardiamente, foi ter seguido o conselho do professor da antiga ULM, fazer Pedagogia e ter conseguido entrar no "sistema"escolar, através de concurso público, numa cidade do litoral norte, adquirindo estabilidade, trabalhando 4 horas por dia, e de quebra ainda utilizar a música diariamente como ferramenta de ensino na educação infantil.
O resto do dia posso aprimorar no instrumento, ir pra praia, e inclusive posso trabalhar a noite com música. Fiz questão de escolher a Pedagogia poi…